2 de julho de 2016

3- O Mundo é um Moinho

Filho,

Hoje conheci a música "O Mundo é um Moinho" do compositor brasileiro Cartola. Achei a melodia maravilhosa e queria compartilhar com você.
Gosto muito de discos de vinil, peguei a coleção da minha casa (do seus avós e tios), do meu avô materno e da minha avó paterna. Aprecio demais as músicas conhecidas como "seresta". Pesquise sobre isso. Quando as ouço, sinto uma tranquilidade, um saudosismo - fico muito bem. Meu esposo diz que o deixam deprê, ao contrário de mim. É engraçado o que as músicas fazem com as pessoas. Espero que as aprecie, como eu.

Um beijo da mamãe.
R.

<O Mundo é Um Moinho>
Cartola

Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a pó

Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés

{Lição} Ouça músicas de todos os tipos e seja livre para sentir o que elas transmitem.

22 de maio de 2016

2 - Sobre a nossa vontade X a vontade do outro

Olá meninos.

Hoje estou triste, pensando sobre a quantidade de coisas que costumo fazer pelas outras pessoas, mas, que vão contra a vontade do meu esposo. Ele acredita que devemos oferecer nosso serviço ao outro na mesma proporção que ele faz por nós. A mesma medida de doação. Acontece que eu nunca fui assim. Especialmente quando se trata de pessoas que eu amo. 

Sou totalmente doada às necessidades do outro. E não vejo gravidade em fazer algo sem receber esse serviço na mesma proporção (dizem que isso é bem coisa de mãe, não é? - ou coisa de gente boba, como muitos acham). Ele diz que as pessoas perdem os limites e costumam explorar o servidor. Ele se preocupa muito com isso, vem das suas experiências juvenis negativas. Um dos nossos problemas de relacionamento acontece quando ele quer controlar meus serviços ao outro. Isso me incomoda profundamente, por que já diminuí minhas atitudes, para evitar discussões chatas em nossa casa. E servir me faz bem.

Falei que estava triste, por que hoje emprestei um objeto a minha mãe. Ele reprovou minha atitude, por dois motivos: nós estávamos usando esse objeto e por que não conversei com ele se deveria emprestar. Emprestei por que ainda tínhamos metade do objeto e por que não achei que fizesse tanta falta. Não quero pedir de volta, pois já emprestei, Vou ficar sem graça. Embora eu concorde que as pessoas muitas vezes explorem o "ser servidor", não sei até que ponto essa regra deva ser aplicada aos nossos pais (e aqui nem falo sobre irmãos). Para mim vale a máxima de que para um pai e uma mãe, devemos fazer de tudo. Para mim é uma obrigação. Eu digo não, somente se realmente me fizer falta, e ainda com suas devidas proporções. Se ele precisar mais que eu, dou.

Compreendo que ele põe limites para controlar os exploradores, mesmo que estes sejam nossos pais, mas, fico muito chateada por que para mim é difícil dizer não, por algo tão banal, tão material. Se pudesse daria tudo o que eu tinha. Mas, hoje as coisas não são só minhas. Nem meu facebook (não sei se vocês vão conhecer, mas é uma rede social muito usada). Ele falou que não posso divulgar os produtos dos amigos por que atrapalha a divulgação dos nossos produtos, por que fica parecendo uma quitanda e por que os outros também tem que fazer por nós (ou por "mim") para merecer um compartilhamento. São muitas regras irritantes. Meu facebook não é meu. A casa não é minha. Minha vida não é minha. Pense num lado ruim de casar: é esse. 

Onde termina seu espaço e onde começa o do outro? O que é meu, o que é seu e o que é nosso? Até onde o outro está tirando sua liberdade de escolha, para sugerir o que é bom "para nós"? 

O que vocês pensam sobre isso?
Um beijo de sua mãe, R.

{Lição} Casamento é uma lição de flexibilidade. Mas, precisa ser das duas partes.

1 - Aos meus filhos

Meus filhos,

Não sei quantos vocês serão. Não sei se um dia poderei tê-los, embora os deseje muito. Não sei se serão de sangue ou de coração, só tenho a certeza de que os amei, muito antes de existirem.

Há alguns meses planejo começar a escrever para vocês, por que acredito que o que deixamos nessa vida são os nossos feitos e nossos pensamentos registrados. Perdi recentemente dois avós que gostava muito e tudo o que ficou deles foi a lembrança dos momentos que passamos juntos, e que tenho receio de que se apaguem da minha memória (que não é das melhores, confesso). Um deles era escritor, e por causa de tudo o que ele escreveu em vida, poderei tê-lo por mais tempo e compartilhar suas experiências de vida e pensamentos com vocês, que serão meus herdeiros. Inspirada nisso, também desejei que me conhecessem profundamente, e por isso os deixo estas cartas.

Desejo que ela seja uma espécie de diário oculto, daqueles que apresentamos somente a algumas pessoas. Ele será aberto para a internet, para que possa inspirar outros pais e mães, mas, entre os mais próximos, espero que somente vocês e seus descendentes o conheçam (se um dia os desejarem), pois aqui quero falar-lhes sobre meus pensamentos mais profundos, e não gostaria de ser julgada, hoje, por isso.

Estou muito feliz por ter começado. Que seja próspero e duradouro.

Obrigada por estarem comigo.

Sua mãe, R.

{Lição} O começo sempre precisa de um empurrão. E às vezes ele dói.